terça-feira, 25 de maio de 2010

Quem cuida dos corações?

Uma consulta de rotina ao cardiologista. Assim era pra ser. Aproveitei o retorno de minha mãe a esse médico e marquei para sermos atendidas juntas.
Imaginei que chegando ao médico, depois de ser recebida com um aperto de mão e um bom dia, ele atenderia minha mãe, analisaria seus exames, orientando-a sobre os cuidados necessários.
Em seguida, passaria a me atender. Eu diria que estava ali para uma avaliação sem nenhum antecedente, apenas para cuidados preventivos. Ele ouviria o meu histórico, tiraria minha pressão arterial, escutaria os batimentos cardíacos, preencheria as guias médicas para exames laboratoriais e eu iria embora determinada a voltar para apresentar os resultados e tudo bem...Uma consulta normal!
Mas, não foi assim!
Ao chegarmos o Dr. nos recebeu com um bom dia, sem ao menos nos olhar, respondendo ao nosso cumprimento. Sentamos e ele logo foi dizendo à minha mãe: a sra. pode "ir abrindo" os envelopes dos exames para agilizar o atendimento. Assim fizemos. Sim. Porque preferi ajudá-la para que ela não ficasse tensa.
Olhou os exames e ao notificar um pequena alteração em um dos resultados perguntou: - vocês têm condições para comprar um aparelho de pressão no valor R$ 250 em 10 vezes? A sra. vai precisar de um.
Achei estranho o modo como falou, mas continuei assistindo a cena.
Minha mãe respondeu: - claro, posso comprar sim. Então, disse o médico, vou explicar o que preciso que faça e caso tenha alguma dúvida, pergunte. Na primeira dúvida, ele debochou da minha mãe. Na segunda, foi comigo, "acho que você não ouviu o que eu disse", respondeu a mim.
Comecei a ficar nervosa. Respondi com educação, mas com firmeza: - Ouvi, o sr. disse 'isso, isso e isso também', mas a minha dúvida é 'essa e essa outra'. Ele respondeu com mais calma.
Terminada a consulta dela, veio a pergunta enquanto olhava a minha ficha:  - você não é a Sheila? Diga que não. Precisarei sair da sala para resolver um problema com um funcionário. Não posso deixar de cuidar disso.
Ouvíamos ao longe uma discussão. Alguém, que nos parecia ele, gritando: - Fala! fala!
Quando voltou, pegou o telefone e disse que precisava conversar com seu advogado. Saiu novamente. Olhei para minha mãe e perguntei se não se tratava de uma pegadinha. Procurei a câmera, mas não encontrei. Continuamos ali, só não sei porque.
Depois de uns quinze minutos, quando novamente retornou a sala, ainda falando com seu advogado, ficamos atônitas com a conversa: - não tem problema, dizia. O fulano trabalha comigo há uns 30 anos e vou pagar a faculdade de medicina do filho dele, essa dívida ele não terá como me pagar nunca. Preocupa-me a outra... 
Enfim desligou e começou a nos explicar: - sabe o que é? Contratei uma estagiária, que engravidou, não quer saber de trabalhar e ainda foi cobrar na justiça os seus direitos trabalhistas. Desde quando estagiário tem direitos minha senhora, falava em tom bastante irritado. Minha mãe, logo respondeu: - infelizmente, deviam ter seus direitos garantidos.
Nessa hora, nem queira imaginar como ficou desfigurado o tal médico. Disse que em nosso país as pessoas são folgadas, trabalham seis meses e depois forçam uma demissão para ganhar os benefícios do governo. Um país presidido por um bossal, continuava ele...
E muito mais...
Peguei minhas guias depois de ele mal ter ouvido meus batimentos cardíacos, que estavam a mil de tanta raiva que estava daquele homem repugnante, e viemos embora. Minha mãe e eu. Dedicidas a nunca mais colocar os pés naquele consultório.
Quando saímos ela me perguntou porque não havia brigado ou discutido, já que me conhece e sabe o quanto devia estar incomodada com aquelas atitudes e palavras.
Realmente até eu fiquei surpresa com minha reação. Mas, pensei que não adiantaria qualquer palavra minha. O "bossal" não entenderia. Uma pessoa que não sabe o que é respeito, educação e ética. Tão pouco entende de dignidade humana para falar das pessoas que trabalham com ele daquela maneira. Discutiríamos em vão. Até pra discutir tem de valer a pena. 
O melhor remédio para esse médico é o descaso, a perda de clientes (pacientes).  E, nesse caso, cuidar dos corações acaba sendo uma contradição!